SINAIS DE ABANDONO
UOL - 22/11/2013 - 10h51
A evasão escolar entre os jovens, alvo da constante preocupação de educadores,
foi avaliada em duas iniciativas recentes: pesquisa do Cebrap (Centro
Brasileiro de Análise e Planejamento), divulgada em junho, e a 4ª. Semana da
Educação de Campinas, realizada pela Fundação FEAC no início de novembro.
A pesquisa "O que pensam os jovens de baixa renda sobre a
escola" foi desenvolvida pelo Cebrap, com o apoio da Fundação Victor
Civita e de entidades e empresas privadas. Tem como objeto de estudo jovens de
15 a 19 anos, oriundos de áreas de baixa renda de municípios das regiões metropolitanas
de Recife e São Paulo que, em algum momento, ingressaram no ensino médio.
A 4ª Semana da Educação de Campinas levou programação intensa para
professores, pais e estudantes da cidade entre 4 e 8 de novembro. Integrada ao
movimento Compromisso Campinas pela Educação, e em parceria com entidades e
empresas da região, pautou-se pelo mote "Aprender Juntos para que a Escola
Ensine".
Um diploma e um trabalho
A maneira como o ensino médio evoluiu no país tem aspectos muito
interessantes e a sua parcela de responsabilidade para que o jovem não se sinta
atraído pela escola. Mas, como o estudo do Cebrap é bastante amplo e este
espaço tem os seus limites, restrinjo-me a alguns sinais.
Português e matemática parecem ser as únicas matérias com alguma
utilidade para a maioria dos entrevistados. Outras disciplinas são
desmotivadoras e, portanto, uma das causas para que não haja interesse na
escola. Conseguir um diploma é o grande objetivo de 20% deles.
Alguns fatores de peso no abandono escolar dos jovens que chegam ao
ensino médio são a idade, a repetência, a experiência de trabalho, a gravidez e
a escolaridade do pai. Por ingressar tardiamente na escola, ou por repetência,
alguns jovens sentem-se deslocados na situação de mais velhos em suas turmas. A
grande maioria acha que 17 anos é idade para trabalhar, mas nem todos conseguem
trabalho, porque não têm estudo.
Com base na PNAD/2011 (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) do
IBGE, mais de um milhão de jovens não trabalham nem estudam. São 24% daqueles
com 18 anos de idade e 25% dos que atingiram os 20 anos. Há mais meninos do que
meninas entre os fora da escola (54,1% contra 45,3%). No entanto, na faixa de
renda mais baixa, as meninas predominam (56%). A gravidez responde por 34,4%
das jovens que deixaram a escola. Curiosamente, segundo a pesquisa do Cebrap, o
número de meninas que abandonaram a escola para casar e constituir família é
superior ao daquelas que pararam de estudar por causa de uma gravidez.
Vida de adulto
Em Campinas, um quinto dos jovens entre 18 e 24 anos já é chefe de
família. Deles, 60% não estudam, de acordo com os dados apresentados na 4ª
Semana de Educação de Campinas por Maria Helena Guimarães de Castro,
diretora-executiva da Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados).
O estudo apontou que 15% da população de Campinas são de jovens entre 15
e 24 anos (mais de 170 mil pessoas). Daqueles entre 15 e 17 anos, 86% ainda
moram com os pais ou responsáveis, mas cerca de 4% já são responsáveis por seus
domicílios. Na faixa entre 18 e 24 anos, eles são quase 23%.
A situação econômica é crítica: na faixa entre 15 e 17 anos, 20% dos
jovens vivem em famílias com até meio salário mínimo per capita e 60% em
famílias com renda per capita de meio a dois salários mínimos. Entre os jovens
de 18 a 24 anos, 16% integram famílias com até meio salário mínimo per capita e
53% vivem em famílias com renda per capita entre meio e dois salários mínimos.
Dos 60% dos jovens entre 18 e 24 anos que não estudam apenas a metade
concluiu o ensino médio. Mais de 70% daqueles entre 15 e 17 anos trabalham,
embora 30% sejam empregados informais, sem carteira de trabalho.
A informalidade é menor entre os mais velhos, de 18 a 24 anos (13%). No
entanto, 12,5% deles estão desocupados. Esse percentual é o dobro da taxa geral
da população na cidade e no Brasil.
* Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor,
criador desta coluna.
Lucila Cano
Colunista especialista em temas relacionados ao 3º setor.