sexta-feira, 22 de novembro de 2013

SINAIS DE ABANDONO - EVASÃO ESCOLAR


SINAIS DE ABANDONO

UOL - 22/11/2013 - 10h51

A evasão escolar entre os jovens, alvo da constante preocupação de educadores, foi avaliada em duas iniciativas recentes: pesquisa do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), divulgada em junho, e a 4ª. Semana da Educação de Campinas, realizada pela Fundação FEAC no início de novembro.

A pesquisa "O que pensam os jovens de baixa renda sobre a escola" foi desenvolvida pelo Cebrap, com o apoio da Fundação Victor Civita e de entidades e empresas privadas. Tem como objeto de estudo jovens de 15 a 19 anos, oriundos de áreas de baixa renda de municípios das regiões metropolitanas de Recife e São Paulo que, em algum momento, ingressaram no ensino médio.

A 4ª Semana da Educação de Campinas levou programação intensa para professores, pais e estudantes da cidade entre 4 e 8 de novembro. Integrada ao movimento Compromisso Campinas pela Educação, e em parceria com entidades e empresas da região, pautou-se pelo mote "Aprender Juntos para que a Escola Ensine".

Um diploma e um trabalho

A maneira como o ensino médio evoluiu no país tem aspectos muito interessantes e a sua parcela de responsabilidade para que o jovem não se sinta atraído pela escola. Mas, como o estudo do Cebrap é bastante amplo e este espaço tem os seus limites, restrinjo-me a alguns sinais.

Português e matemática parecem ser as únicas matérias com alguma utilidade para a maioria dos entrevistados. Outras disciplinas são desmotivadoras e, portanto, uma das causas para que não haja interesse na escola. Conseguir um diploma é o grande objetivo de 20% deles.

Alguns fatores de peso no abandono escolar dos jovens que chegam ao ensino médio são a idade, a repetência, a experiência de trabalho, a gravidez e a escolaridade do pai. Por ingressar tardiamente na escola, ou por repetência, alguns jovens sentem-se deslocados na situação de mais velhos em suas turmas. A grande maioria acha que 17 anos é idade para trabalhar, mas nem todos conseguem trabalho, porque não têm estudo.

Com base na PNAD/2011 (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) do IBGE, mais de um milhão de jovens não trabalham nem estudam. São 24% daqueles com 18 anos de idade e 25% dos que atingiram os 20 anos. Há mais meninos do que meninas entre os fora da escola (54,1% contra 45,3%). No entanto, na faixa de renda mais baixa, as meninas predominam (56%). A gravidez responde por 34,4% das jovens que deixaram a escola. Curiosamente, segundo a pesquisa do Cebrap, o número de meninas que abandonaram a escola para casar e constituir família é superior ao daquelas que pararam de estudar por causa de uma gravidez.

Vida de adulto

Em Campinas, um quinto dos jovens entre 18 e 24 anos já é chefe de família. Deles, 60% não estudam, de acordo com os dados apresentados na 4ª Semana de Educação de Campinas por Maria Helena Guimarães de Castro, diretora-executiva da Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados).

O estudo apontou que 15% da população de Campinas são de jovens entre 15 e 24 anos (mais de 170 mil pessoas). Daqueles entre 15 e 17 anos, 86% ainda moram com os pais ou responsáveis, mas cerca de 4% já são responsáveis por seus domicílios. Na faixa entre 18 e 24 anos, eles são quase 23%.

A situação econômica é crítica: na faixa entre 15 e 17 anos, 20% dos jovens vivem em famílias com até meio salário mínimo per capita e 60% em famílias com renda per capita de meio a dois salários mínimos. Entre os jovens de 18 a 24 anos, 16% integram famílias com até meio salário mínimo per capita e 53% vivem em famílias com renda per capita entre meio e dois salários mínimos.

Dos 60% dos jovens entre 18 e 24 anos que não estudam apenas a metade concluiu o ensino médio. Mais de 70% daqueles entre 15 e 17 anos trabalham, embora 30% sejam empregados informais, sem carteira de trabalho.

A informalidade é menor entre os mais velhos, de 18 a 24 anos (13%). No entanto, 12,5% deles estão desocupados. Esse percentual é o dobro da taxa geral da população na cidade e no Brasil.

* Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.

Lucila Cano

Colunista especialista em temas relacionados ao 3º setor.

 

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Dia da Consciência Negra e Igualdade Racial


Dia da Consciência Negra e Igualdade Racial

CENAS DO BRASIL - 22.11.12 -  O programa abordou o Dia da Consciência Negra, que este ano está ancorado na campanha "Igualdade racial é pra valer". Em pauta, as medidas que estão sendo adotadas para o fortalecimento da promoção da igualdade racial em diferentes segmentos. A diretora de Políticas de Ações Afirmativas da SEPPIR, Monica Oliveira; e a professora da UNB, Neide Rafael, coordenadora intermediária de Direitos Humanos e Diversidade da Regional do Plano Piloto, participaram do debate.

Diversidade e pluralidade: o negro na sociedade brasileira


Diversidade e pluralidade: o negro na sociedade brasileira

 

João Baptista Borges Pereira

Professor emérito da USP e professor pleno de Pós-Graduação da Universidade Presbiteriana Mackenzie

  

A história do Brasil registra o que hoje ninguém desconhece: a construção histórica do país começa com o cimento da pluralidade de povos, representada esquematicamente pelas populações indígenas, pelos brancos, predominantemente portugueses, pelos negros escravizados em África desde o século XVI até o século XIX. Apenas a partir de 1875, data-símbolo do início do processo migratório com a vinda de imigrantes brancos de várias procedências e, anos depois, em 1908, com a chegada dos japoneses, é que essa pluralidade deixou de ser trinária e se tornou complexa tal qual a conhecemos hoje.

Paradoxalmente, o segmento negro pode ser considerado um dos grandes fatores desencadeadores desse processo. As estatísticas expressam em número e percentuais a preocupação que perpassava pelos políticos e intelectuais da época: havia um "perigoso" equilíbrio entre o contingente branco e o não branco na população brasileira. Deixar que esse desequilíbrio se rompesse a favor do segmento branco por meio da reprodução natural da população era aguardar um processo histórico-biológico longo e de resultados imprevisíveis, talvez indesejados. As teses a favor da imigração de povos ideais brancos, latinos e católicos, que iriam, rapidamente, fazer a balança pender para o lado dos brancos, perpassavam toda a retórica da época. Certamente, essas ideias intencionais de branqueamento da população, via imigração, ficam explicitadas, saem dos subterfúgios para a cena histórica, por ocasião da imigração de japoneses, considerados os antípodas dos ideais de um país branco e ocidental (Dezem, 2005). No tocante à política de branqueamento do país, os amarelos, então, se igualavam aos negros. Nesse sentido é oportuno recuperar o Decreto 528 assinado por Deodoro da Fonseca, logo no início de seu governo presidencial. Em seus três primeiros artigos, esse decreto especifica que não teriam livre acesso aos portos brasileiros, como imigrantes, os "indígenas da Ásia e da África" (Borges Pereira, 2000).

A busca de trabalhadores sérios, que sabiam ou podiam se dedicar plenamente às tarefas produtivas que marcaram o terceiro ciclo da economia nacional - lavouras de café -, é apontada, corriqueira e enfaticamente, como o grande fator de estímulo à imigração estrangeira.

O negro na sociedade brasileira

Essa política levada a cabo pelo governo da época mal dissimulava a ideia de que o negro era o contraponto do ideal aspirado. Na fase escravocrata, nos dois ciclos econômicos anteriores pelos quais o país havia passado, ele fora o ator social subjugado que atuava na cena da produção do açúcar e da exploração dos minérios. Na grande plantação, que iria alicerçar e construir a elite política dominante da República, o recém-liberto, taxado de mau trabalhador agrícola, sai da cena rural a caminho das incipientes cidades, em busca de um espaço em uma estrutura ocupacional pouco diversificada e pouco receptível à mão de obra desqualificada. Nesse instante histórico, segundo Florestan Fernandes, é que a mulher negra encontra seu nicho de ganho em casas de famílias brancas mais abastadas, tornando-se, em oposição ao homem, o ser que trabalha e com o seu trabalho sustenta a sua casa (Fernandes, 1964). É essa situação de precariedade socioeconômica que coloca a mulher na chefia da família e fornece os ingredientes para que o imaginário brasileiro construa a figura do homem negro como indivíduo preguiçoso, desinteressado do trabalho, vivendo às expensas da mulher.

Tal situação é captada pela sensibilidade do negro, que a transmite por intermédio da música, um dos únicos recursos que essa população discriminada encontrava para expressar seus anseios e denunciar os problemas que envolviam a então autodenominada "raça". Samba de autor anônimo ou composição coletiva, que segundo João da Baiana, um dos "heroicos" desse gênero musical, teria sido composto no começo do século, expressa muito bem esses dilemas nas festas da Penha:

"Roelá. Roelá
Vamo vadiá minha nega (pois) amanhã eu
[vou embora
que é que eu vou levá?
Levo pena e saudades
coração pra te amá
Cê de mim pode falá: meu amor não tem
[dinheiro
não vai roubá pra me dá
no tempo que ele podia
me tratava muito bem
hoje está desempregado
não dá porque não tem
Quando a polícia vier e souber
quem paga casa pro homem é mulher
O que é que eu tenho com a polícia?
quem manda em mim sou eu
hoje está desempregado
Ele também já me deu"
(Borges Pereira, 2001).


A associação entre essas duas buscas - a do branqueamento/ocidentalização do país e a do perfil ideal do Homo economicus (para usar expressão meio fora de moda) - marca todo o projeto e a política imigrantistas do Brasil, encurralando, consequentemente, a população negra na vida nacional. A reflexão acadêmica ou intelectual, desde o transcorrer dos séculos XIX e XX, esteve diretamente influenciando essa retórica e essa política. Seria oportuno lembrar que nessa época o mulato Nina Rodrigues, professor de medicina legal da Universidade da Bahia, antecipando teses de um Brasil dual, tão festejadas nas décadas de 50 e 60 (século XX), apontava em suas pesquisas e reflexões a existência de dois Brasis a se contraporem: de um lado, um Brasil arcaico, pobre, sem perspectivas de progresso; de outro, um Brasil moderno, rico ou mais rico, pautado pelos ideais do progresso. O Brasil primeiro era o Brasil onde predominavam os negros; o Brasil segundo fora colonizado pelos imigrantes brancos - o Brasil Meridional.

Esse deveria ser, na opinião desse autor, o Brasil ideal, o país a ser construído. Há no pensamento de Nina Rodrigues, como se sabe, profundas influências das escolas criminológicas italiana e, principalmente, francesa. É um pensamento que flui de uma intensa e sistemática biologização do mundo, característica do século XIX, do qual brotam as teses racistas (Nina Rodrigues, 1935).

Esse tipo de pensamento, sempre desfavorável ao negro, perdurou pelos anos seguintes nos cenários intelectuais e políticos do país, pelo menos até o final dos anos 20 (século XX), sendo pouco a pouco, até os dias atuais, bloqueado por uma crítica sistemática da questão racial brasileira (Seyferth, 1996).

Alcançado por essa dupla discriminação - raça e vagabundagem -, o negro se viu sistematicamente colocado à margem das esferas mais significativas da sociedade. Encurralado, sobrou-lhe como único e semipermitido espaço social para desenvolver sua sociabilidade entre os seus pares os eventos e precários redutos lúdico-religiosos que o grupo mesmo criara, às vezes dentro de modelos adotados pelas camadas brancas. Essa alternativa, às vezes, apenas tolerada ou mesmo proibida pela repressão policial até o final da década de 20, transformava o negro refém em seu próprio mundo. No primeiro samba gravado com esse rótulo, em 1917 - "Pelo Telefone" -, o compositor Donga denuncia essa iniquidade de que era vítima a população negra do Rio de Janeiro. O mesmo compositor relata em entrevista pormenorizada essa ação policialesca contra as reuniões festivas do negro e a busca de abrigo do grupo nos tradicionais terreiros de candomblé da ex-capital (Borges Pereira, 1997). Ironicamente, essa alternativa de sociabilidade que lhe foi franqueada, ou semifranqueada, agrega à imagem do negro mais um quesito que reforça a ideia de homem vagabundo - a do homem lúdico e mágico, apenas preocupado com as coisas sem importância, improdutivas, de uma nação que se orientava já pelas linhas de um futuro capitalismo. E, assim, constrói-se na sociedade nacional a "identidade deteriorada" do negro brasileiro (Goffman, 1975).

 

REDEFININDO A IDENTIDADE

A reação dos negros a essa imagem estigmatizada se dá, de forma titubeante, com uma incipiente imprensa, nos primórdios da década de 10 (século XX).

Essa imprensa manifestava grande preocupação pedagógica, ao tentar ensinar aos negros como viver entre brancos, como dominar suas maneiras de se trajar, suas etiquetas, como se portar civilizadamente à mesa de refeição. Além disso, observa-se nesses jornais contínuo apelo ao bom comportamento em bailes, evitando transformá-los em "frege". Além disso, nota-se ao lado de elencar locais e dias festivos, principalmente "reuniões dançantes", nítida preocupação em alertar os negros para a necessidade de cultivar o trabalho e não apenas o lazer (Pinto, 1993). O comportamento da mulher negra é, também, uma preocupação constante, quase puritana, nesses jornais. É como se a mulher fosse a precipitadora de situações morais indesejáveis, que poderiam macular a imagem do grupo (Queiroz Jr., 1975).

Posteriormente, com o surgimento de uma imprensa, também alternativa, criada por imigrantes, observa-se o delinear de confrontos identitários entre os recém-chegados e os negros, registrados nos discursos de ambas as imprensas étnicas (Mello, 2005).

Nos princípios dos anos 20, surge o Movimento Modernista, que pode também ser visto como movimento que conduz à exaltação da negritude brasileira. Os atores sociais que atuaram com destaque nesse movimento que pretendia ser de renovação da cultura nacional não eram negros, a não ser que se categorize como tal Mário de Andrade, portador, como se sabe, de inegáveis traços negroides. Dentre os que aderiram ou mesmo fizeram o movimento, simbolizado na Semana de Arte Moderna de São Paulo, em 1922, há grande presença de italianos, ou descendentes de primeira geração de imigrantes peninsulares. Assim, Menotti Del Picchia inagura, em 1917, a poética de exaltação do negro com seu clássico poema - Juca Mulato. Nessa linhagem temática situam-se Cândido Portinari, com os seus tipos humanos amestiçados, curtidos pelo trabalho, como que cheirando a suor. Di Cavalcanti dedica-se à glorificação estética da mulata, enquanto Jorge de Lima faz apologia poética de sua "negra fulô". Francisco Mignone, alertado por Mário de Andrade, alimenta sua inspiração musical a partir de expressões da cultura negra. Destaca-se no repertório de Mignone, dentro dessa temática, a composição Quarta Sinfônica para piano e orquestra, baseada na música de uma escola de samba do Rio de Janeiro.

Como se deduz, não há a presença do homem negro, mas sim a exaltação do que se entendia então por cultura negra como sinônimo de popular e folclórico, dando consequentemente maior visibilidade ao negro tomado como espécie de autenticidade nacional de brasilidade. Todavia, é de se registrar que, mesmo ausente como ator social, a identidade do negro ganha contornos positivos por intermédio do modernismo da década de 20 (século XX). Afinal, a identidade de um grupo se constrói, passando inevitavelmente pela cultura a ele associada, lógica ou historicamente.

O negro como ator social ressurge na transição da década de 30 (século XX) na figura da Frente Negra Brasileira, idealizada e liderada por Arlindo Veiga dos Santos, professor da Faculdade de Filosofia São Bento e jornalista do Correio Paulistano. Sua proposta de luta era a ascensão do grupo negro na sociedade brasileira, paradoxalmente, dentro de um ideário conservador, diria mesmo, à direita desse pensamento. Nesse ponto, a FNB se aproximava muito de uma organização paramilitar, espécie de face negra do patrionovismo que unia um catolicismo antiliberal e nacionalista a um projeto político igualmente antiliberal e nacionalista, nas vizinhanças do integralismo de Plínio Salgado. Além do mais, a Frente Negra Brasileira, em sua proposta original, pregava o retorno do país ao regime monárquico, ao mesmo tempo em que criticava o projeto imigrantista que havia beneficiado os estrangeiros e deixado o negro à mercê de suas próprias desditas. Ao tentar se transformar em partido político, a FNB foi desfeita por Vargas; antes, porém, já estava internamente dilacerada por confrontos entre militantes de esquerda e militantes de direita (Malatian, 1990). Muitos frentenegrinos (autonominação) formaram, cada qual em suas posições ideológicas, a militância negra posterior, denominada hoje "velha militância" em oposição aos que, na geração de 70, assumiram a liderança do "protesto" negro (Cuti, 1992; também Lucrécio, 1987). Cabe observar que foram os "velhos militantes" que contribuíram com suas histórias de vida para que Roger Bastide e Florestan Fernandes realizassem a primeira pesquisa sociológica sobre a questão racial, na década de 50 (Bastide & Fernandes, 2006).

No final da década de 40, período da Segunda Guerra Mundial, Abdias do Nascimento cria o Teatro Experimental do Negro (TEM), encenando peças de repertório clássico do teatro universal. O TEM permaneceu como um marco na história da redefinição da identidade do grupo. Porém, é preciso reconhecer que a mensagem transmitida pelo teatro de Abdias não alcançava a população que seria por ela beneficiada, pois era uma mensagem que saía das esferas da cultura erudita à qual o negro não tivera ainda acesso. De qualquer forma, ao estudioso, o TEM denuncia os sinais da identificação de uma identidade étnica a uma identidade de classe média, que é hoje uma das chaves para se entender esse processo identitário complexo, porque pleno de dilemas e contradições entre "raça", "classe" e "gênero" (Soares, 2004).

 

O MOVIMENTO REATIVO NEGRO NA HISTÓRIA PRESENTE

Na noite do dia 7 de julho de 1978, um grupo de jovens negros protestou na escadaria do Teatro Municipal de São Paulo contra dois atos discriminatórios: o primeiro referia-se à proibição de adolescentes negros de praticarem natação em um clube da cidade; o segundo era endereçado ao regime militar que dominava ditatorialmente o país e fora responsável pela prisão e morte de um operário negro. Nascia, assim, o Movimento Negro Unificado (MNU) que, dentro de um referencial ideológico marxista, propunha reverter a situação do grupo na sociedade brasileira a partir de uma reconstrução da identidade do negro. Isso significava, entre outras coisas, a eliminação da cena social da tradicional "identidade deteriorada", substituindo-a por uma imagem positiva da qual o próprio grupo deveria se orgulhar.

Da agenda do MNU constava:

1) Redefinir, a partir da própria estética, a imagem do negro, enquanto expressão de um corpo não branco. Entram nesse item as preocupações com a beleza negra, principal, mas não exclusivamente, com a beleza feminina. Ganham destaque, como expressão dessa nova identidade ligada à estética negra, os cosméticos e o cabelo. Tais preocupações abrem brechas no mercado consumidor, gerando salões de beleza étnicos nas principais cidades brasileiras e indústrias de cosméticos que, por sua vez, estimulam uma publicidade que tem como alvo o grupo negro (Gomes, 2006).

2) Eliminar os quarenta rótulos pelos quais em diferentes regiões do país se nominavam o preto e seus mestiços (Harris, 1967). Para tal seria adotado o termo abrangente "negro". Essa estratégia de nominação única procurava alcançar dois objetivos politicamente relevantes para o grupo: em primeiro lugar o número e o percentual da população não branca, doravante chamada negra, cresceria a ponto de recuperar o equilíbrio registrado no final do século XIX. Em segundo lugar, se construiria a rede de solidariedade intergrupal, cuja ausência impedia uma ação política conjunta. Enfim, tentava-se com essa estratégia eliminar as distâncias entre gênero, religião e políticas partidárias (Valente, 1986).

3) Estabelecer propostas positivas de valorização dos quilombolas, de exaltação do herói mítico Zumbi, de estímulo e criação da Semana da Consciência Negra; colaborar para o esmaecimento no imaginário negro e nacional do dia 13 de maio como símbolo de uma redenção outorgada; exaltar a cultura chamada negra no país em que se destacam como expressões diacríticas a música, as religiões afro e a fertilização da cultura brasileira a partir das contribuições dos negros.

4) Vigiar, até o policiamento, os meios de comunicação de massa, em especial a TV, para, a um só tempo, aumentar, positivamente, a visibilidade do negro nas telas e eliminar, se possível, de uma vez, a imagem negativa do negro malandro, sem escrúpulos, risível, enfim, do "negro caricatural", que se perpetua e incomoda o grupo desde a fase do rádio (Borges Pereira, 2001; também Fonseca, 1994). Essa vigilância saneadora alcança até os artistas negros que se prestam a representar tais papéis (Araújo, 2000).

5) Eleger a educação superior, universitária, como um dos mais poderosos recursos para reverter os sinais. Essa ideia, impregnada fortemente por uma mística do poder da escola num processo de ascensão social, parece ser unanimidade entre os negros, militantes ou não. É possível distinguir na busca desse objetivo duas estratégias do grupo. A primeira, reatualizando uma estratégia da autodenominada elite negra das décadas de 40 e 50 (século XIX), usa--se a negociação com representantes de camadas mais privilegiadas da população branca (políticos, empresários, profissionais liberais, instituições de ensino) para concretizar os ideais desse segmento. A segunda, ao invés de negociação, prefere uma estratégia baseada na contestação pública e até mesmo no conflito ao topar com os entraves sociais a sua projetada trajetória. Dessa última estratégia, marcada por anseios de camadas mais carentes do grupo negro, nascem as reivindicações de cotas raciais junto às universidades públicas.

6) Finalmente, não aceitar a pluralização do movimento negro: ele é único, embora comporte várias faces, atuando cada qual em seu tempo, cada qual em seu lugar, cada qual com suas estratégias de luta (Borges Pereira, 2007).

Os próprios militantes atuais reconhecem ser esta uma agenda ambiciosa, ainda que admitam que a imagem que se tem do negro hoje não seja mais a desgastada imagem de décadas atrás. E o que é mais relevante: o negro já se liberta da ideologia reflexa, da imagem do espelho do "outro", historicamente construída desde tempos pretéritos. Em outras palavras, o negro já se vê com seu próprio e renovado olhar, embora saiba que resta muito a se fazer. Por negros e por brancos, a favor de negros e brancos, em busca de uma cidadania plena - pedra de toque de um Brasil plenamente democrático.

 

BIBLIOGRAFIA

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SOARES, Reinaldo da Silva. Negros de Classe Média em São Paulo: Estilo de Vida e Identidade Étnica. Tese de doutorado em Antropologia Social. São Paulo, USP, 2004.         [ Links ]

________. Vai-Vai - o Cotidiano de uma Escola de Samba. São Paulo, Booklink, 2006.         [ Links ]

 

FONTE: Rev. USP  no.89 São Paulo mar./maio 2011

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Trabalhos relacionados à temática da cultura negra no Brasil.


          O Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo disponibiliza uma série de trabalhos relacionados à temática afro-brasileira, para tanto basta acessar o site:
 

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Filme: "A Rota dos Orixás"

 
NA ROTA DOS ORIXÁS
 Um relato realista e comovente das relações entre Brasil e África inspirou o videomaker Renato Barbieri e o historiador Victor Leonardi a criar uma série de quatro documentários chamada Atlântico Negro.

Na Rota dos Orixás apresenta a grande influência africana na religiosidade brasileira. Na fita, Renato Barbieri mostra a origem de as raízes da cultura jêje-nagô em terreiros de Salvador, que virou candomblé, e do Maranhão, onde a mesma influência gerou o Tambor de Minas.

Um dos momentos mais impressionantes deste documentário é o encontro de descendentes de escravos baianos que moram em Benin, um país africano desconhecido para a maioria do brasileiros, mantendo tradições do século passado.
 

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

MAPAS TÁTEIS




MAPAS TÁTEIS

               Os mapas táteis são a principal ferramenta cartográfica que utiliza a percepção tátil como forma de decodificação da representação do espaço geográfico e de seus fenômenos. Sendo a forma predominante de transmitir as informações espaciais aos deficientes visuais o, tato a construção desse tipo de documento deve ser diferenciada dos mapas convencionais (cuja forma de transmissão é majoritariamente a visão), pois possuem características distintas no processo de apreensão das informações.

Sites sugeridos:
 
 
 


 
 
 

 


terça-feira, 15 de outubro de 2013

Parque Estadual do Jaraguá




Parque Estadual do Jaraguá

O Parque Estadual do Jaraguá, com aproximadamente cinco mil hectares de área, constitui uma das últimas vegetações remanescentes da mata atlântica em áreas urbanas da cidade, o que representa grande importância histórica, estética, recreativa, econômica e ambiental.

Conhecido por ser o ponto mais alto da região metropolitana, o Parque Estadual do Jaraguá tem trilhas que levam ao pico de 1.135 metros de altitude e ao mirante, onde a vista privilegiada da cidade e dos arredores já vale o passeio. Ao longo dos caminhos é possível observar, além de lagos e nascentes, animais silvestres em seu habitat natural.

É um parque urbano, que figura entre um dos mais representativos deste gênero no Brasil. Criado em 1961 e tombado como patrimônio da humanidade pela Unesco em 1994, possui significado histórico, tendo se constituído em foco de várias representações sociais paulistas. Hoje costuma ser mais lembrado por portar várias antenas de televisão em seu pico, sem isso significar a perda de sua beleza, pois ainda é um dos cartões postais da cidade e ponto referencial do paulistano.

Criado em 1961, a área tem atividades para adultos e crianças. São churrasqueiras, quadras, playgrounds, albergue, lanchonete, pavilhão e anfiteatro à disposição do visitante. É possível chegar ao Pico do Jaraguá de carro pela estrada turística.

Serviço:
Parque Estadual do Jaraguá
Rua Antônio Cardoso Nogueira, 539 (acesso pela Rodovia Anhanguera, Km 18)
Tel.: (11) 3941-2162/3943-5222
Horário: Todas os dias, das 7h às 17h
Grátis

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

ONU registra queda em casos de AIDS pela primeira vez.


ONU registra queda em casos de AIDS pela primeira vez

Estadão Conteúdo  -  23/09/20130  -  8h55


Pela primeira vez, a Organização das Nações Unidas (ONU) anuncia que o ritmo de registro de casos de aids no mundo teve uma queda. Em um desempenho considerado histórico, o número de novas infecções de pessoas com o HIV caiu 33% em pouco mais de uma década, entre 2001 e 2012, e o de mortes foi reduzido em 30%. Os novos casos de crianças infectadas também caíram 52%.

Os dados fazem parte de um informe divulgado hoje e no qual a Unaids - agência da ONU de combate à doença - apresenta novas projeções sobre a epidemia. Apesar dos resultados inéditos, a entidade alerta que o mundo precisa fazer mais.

Em 2001, 3,4 milhões de pessoas foram infectadas pelo HIV e, em 2012, a taxa caiu para 2,3 milhões. Em ao menos 26 países, a queda foi superior a 50%. No total, o número de pessoas infectadas, porém, continua subindo porque a sobrevida aumentou com o acesso ao tratamento. Em 2001, 30 milhões de pessoas no mundo viviam com o HIV - em 2012, eram 35,2 milhões. Desde o início da epidemia, 75 milhões de pessoas já foram infectadas.

Funcionários da ONU não escondem que os números são surpreendentes - há apenas alguns anos, poucos imaginariam que a redução seria possível. A mudança aconteceu em grande parte graças à decisão da entidade de adotar o modelo brasileiro de garantir acesso ao coquetel antirretroviral como uma estratégia mundial. O tratamento ajudou também a barrar a contaminação.

Em 2005, 1,3 milhão de pessoas tinham acesso a remédios no mundo. No fim do ano passado, o número chegou a 9,7 milhões. "Mas, apesar dos ganhos históricos em expandir os serviços de tratamento, o esforço para garantir um acesso universal enfrenta desafios consideráveis", alerta a Unaids.

A mortalidade caiu de forma importante. Em 2001, 1,9 milhão de pessoas morreram em decorrência da aids e, em 2012, foram 1,6 milhão. Desde o pico da epidemia, em 2005, o número de mortes caiu 30%.

Um dos dados mais comemorados é o de casos de novas crianças infectadas. Entre 2001 e 2012, a redução foi de mais de 50%, para um total de 250 mil.

Investimento

Parte do sucesso obtido se deve ao volume de recursos destinados para o combate à aids. Em 2002, existiam US$ 3,8 bilhões para atacar a doença. Hoje, são quase US$ 19 bilhões. Para 2015, a Unaids estima que serão necessários até US$ 24 bilhões.

O Brasil aparece como o País com o maior orçamento nacional para o combate à doença entre as economias emergentes. Houve queda de 30% no número de mortes. Por ano, são mais de US$ 745 milhões - a China, com população seis vezes maior, investe US$ 497 milhões. A Unaids, porém, alerta que o País, mesmo com todo o dinheiro investido, corre o risco de não atingir algumas das metas mundiais de redução até 2015.

No caso do Brasil, a agência mostra que o total da população contaminada não mudou entre 2001 e 2012, com 0,4% dos brasileiros sendo registrados como portador do vírus. Em números absolutos, houve um aumento. Em 2001, estimava-se que entre 430 mil e 520 mil pessoas viviam com aids no Brasil. Em 2012, o volume subiu para um intervalo entre 540 mil e 660 mil.

Mas, assim como no caso mundial, o aumento no número de pessoas vivendo com o vírus da aids no Brasil em parte também é resultado de um prolongamento da vida daqueles afetados pela doença. Os números de mortes anuais no Brasil por causa da doença passaram de um máximo de 27 mil, em 2001, para 19 mil em 2012. A queda estimada é de 29,6%.

Se a redução no Brasil segue a tendência mundial, a Unaids deixa claro que o governo precisa fazer novos esforços para conseguir avançar com o tratamento, ainda que o País seja considerado o modelo que inspirou toda a resposta internacional da última década.

Hoje, cerca de 307 mil adultos recebem gratuitamente o tratamento contra a aids, mas o número de pessoas precisando de assistência pode chegar a 370 mil em 2015. A agência da ONU recomenda que o Brasil concentre seus esforços em garantir um acesso pleno ao tratamento até 2015.

 

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

MORTALIDADE INFANTIL - BRASIL


Unicef aponta que mortalidade infantil caiu 77% no Brasil entre 1990 e 2012

Edgard Matsuki
Do UOL, em Brasília, 13/09/201311h13

 

Relatório divulgado pelo Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) nesta sexta-feira (13) aponta que o índice de mortalidade infantil caiu cerca de 77% nos últimos 22 anos no Brasil. De acordo com o Relatório de Progresso 2013 sobre o Compromisso com a Sobrevivência Infantil: Uma Promessa Renovada, a taxa de mortes de crianças com menos de cinco anos era de 62 por mil nascimentos em 1990 e em 2012 estava 14 por mil nascimentos.

Os óbitos de crianças com menos de cinco anos de idade são considerados mortalidade infantil. Os dados são de estudo realizado com a colaboração da Unicef, da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Banco Mundial.

Maior declínio

O Brasil é o sétimo país do mundo que mais teve declínio no índice de mortalidade infantil. No ranking mundial, o Brasil apresenta a posição 120 com maior mortalidade infantil.

Os países que mais conseguiram erradicar a morte de crianças menores de cinco anos no período foram Maldivas (89%), Estônia (82%), Arábia Saudita (82%), Turquia (81%) e Macedônia (80%).

Na América Latina e Caribe, o país tem, junto com o Peru, maior índice de queda de 1990 até 2012. A mortalidade infantil que, em 1990, era de 90 por mil, caiu para 48 por mil nascimentos em 2012, o que fez com que o Brasil atingisse o Objetivo do Desenvolvimento do Milênio 4 (ODM 4), que visava a queda da mortalidade infantil em 66% entre os anos de 1990 e 2015.

De acordo com o Unicef, a queda foi possível graças a uma série de medidas como a criação do SUS (Sistema Único de Saúde), com foco na atenção primária da saúde, avanços no atendimento materno e recém-nascido, melhoria nas condições sanitárias, promoção do aleitamento materno e criação de iniciativas de proteção social como o Bolsa-Família.

Na taxa de mortalidade neo-natal (nos primeiros 28 dias de vida), o Brasil apresentou queda de 68%. O índice era 28 por mil nascimentos e passou para 9 por mil nascimentos.

Helvécio Magalhães, secretário de atenção à saúde do Ministério da Saúde, diz que a diminuição ainda é um desafio: "Entre às ações, estamos sem tréguas lutando por uma epidemia que é a da cesariana, que impacta no índice de mortes de bebês no Brasil".

Número expressivo

O ministro da saúde, Alexandre Padilha, afirma que o número é expressivo: "Se alguém pergunta por que existe o SUS, uma boa parte das respostas estão nesses números", disse, acrescentando: "O Brasil reduziu a mortalidade infantil mais do que América Latina, que os Brics e que os países com renda média alta. Não serve de comemoração, mas, sim, de incentivo para continuarmos".

Padilha também afirmou que quanto mais se reduz a taxa de mortalidade, o esforço para continuar a redução é preciso. Além disso, citou que hoje o Brasil está na mesma posição que a Argentina. "Há 20 anos estávamos muito pior que eles", afirmou.

O ministro destacou a importância da atenção primária em saúde, expansão do calendário de vacinas no Brasil e expansão de acesso ao parto hospitalar para esta mudança. Outro ponto levantado por ele é a importância de se voltar as atenções para a saúde indígena. "Grande parte das mortes se dão nas aldeias da região amazônica. O programa Mais Médicos deve, inclusive, ajudar nesse quadro", afirmou.

Pelo mundo

No mundo, a queda de mortalidade infantil foi de 47% no período, ou seja, entre 1990 e 2012, o número de mortes de crianças passou de 12,6 a 6,6 milhões, quase a metade. Porém, 18 mil crianças de menos de cinco anos continuam morrendo a cada dia. 

Os cinco países com os piores índices de mortalidade infantil estão no continente africano: Serra Leoa, Angola, Chade, Somália e Congo. Para o Unicef é fundamental a prevenção de doenças como pneumonia, diarreia e malária, que foram responsáveis, em 2012, pela maioria das 6,6 milhões de mortes de crianças com menos de cinco anos.

Além disso, o Unicef alerta que, em âmbito global, o ODM 4 poderá não ser atingido. De acordo com o órgão, a meta não será atingida se a média da queda de mortalidade se manter. "Pelo nosso estudo, 35 milhões de crianças no mundo estão sob risco se a meta não for atingida", explica Cristina Alburquerque, coordenadora de desenvolvimento infantil do Unicef.

 

terça-feira, 10 de setembro de 2013

UMA VIAGEM PELO RIO TIETÊ

UMA VIAGEM PELO RIO TIETÊ



            O vídeo em questão mostra os aspectos do Rio Tietê, que corta o estado de São Paulo no sentido leste-oeste. É possível observar  toda a problemática que envolve o curso do rio, da nascente até a foz.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

ONU divulga dados sobre deslocamentos forçados no mundo

Enviado por luisnassif, qui, 20/06/2013 - 14:17
Por Marco Antonio L.
Da Agência Brasil

A cada quatro segundos ocorre um deslocamento forçado no mundo, diz ONU
Vinícius Lisboa

Rio de Janeiro - Em 2012, a cada quatro segundos uma pessoa teve que fazer um deslocamento forçado no mundo por questões humanitárias, divulgou hoje (19) o Alto Comissariado da ONU para Refugiados (Acnur), no relatório Tendências Globais 2012. Segundo o órgão, o mundo tem 45,2 milhões nessa situação. A população é a maior desde 1993, ano dos conflitos na Bósnia, em Ruanda e no Burundi.
O grupo de pessoas nessa situação inclue 15,4 milhões de refugiados, 28,8 milhões de pessoas forçadas a se deslocarem dentro de seus próprios países e 937 mil que solicitaram pedido de asilo, além dos apátridas, que nasceram em outro país enquanto a mãe estava refugiada. A apatridia é a "condição de um indivíduo que não é considerado como um nacional por nenhum Estado", explica o Acnur.
De acordo com o Acnur, 48% dos refugiados são mulheres e 46%, menores de 18 anos. Os dados mostram que as famílias são as principais afetadas e estão se deslocando conjuntamente, de acordo com Andrés Ramirez, representante do órgão no Brasil.
No ano de 2012, foram registrados 7,6 milhões de novos deslocamentos forçados, sendo 6,5 milhões internos e 1,1 milhão de refugiados. As principais crises humanitárias que levaram a esse quadro foram as da Síria, República Democrática do Congo, do Mali e do Sudão/Sudão Sul, que seguem sem solução.
Da população total de pessoas deslocadas, 35,8 milhões estão sob responsabilidade do Acnur, e a outra parte, a cargo de demais organismos internacionais.
Segundo o estudo, 55% dos refugiados vêm de cinco países: Afeganistão (2,5 milhões), Somália (1,3 milhão), Iraque (746 mil), Síria (728 mil) e Sudão (569 mil). Entre eles, na Somália, além dos conflitos, o povo ainda enfrenta grave estiagem, segundo Ramirez.
"Na Somália, o conflito e o desrespeito aos direitos humanos se soma a um desastre natural, uma seca muito grande. Vai ser esse o tipo de deslocamento do futuro, e que já está ocorrendo atualmente", disse.
A maior parte dos refugiados migra para países vizinhos, que são subdesenvolvidos em 81% dos casos. Mais de 50% dos refugiados protegidos pelo Acnur estão em países com PIB (Produto Interno Bruto) per capita menor de US$ 5 mil por ano. Paquistão, Irã, Alemanha, Quênia e Síria são os países que mais recebem refugiados.
De acordo com Ramirez, o Brasil tem uma legislação avançada para tratar da questão dos refugiados, mas recebe poucos por não ser vizinho a nações com grandes conflitos. Segundo o Comitê Nacional para Refugiados, 4,3 mil vivem atualmente no Brasil.
"Não é o desempenho do país que faz com que os refugiados o procurem. A grande maioria dos conflitos do mundo fica longe do Brasil. Mesmo os colombianos, preferem ir para o Equador, porque a fronteira com o Brasil é difícil de atravessar por causa da Amazônia", explicou.
Edição: Carolina Pimentel
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sexta-feira, 14 de junho de 2013

CELSO FURTADO - ESSENCIAL

"ESSENCIAL CELSO FURTADO"


          Até seu último texto, escrito duas semanas antes de morrer, o economista Celso Furtado viveu seis décadas de produção constante, que abrangeu um amplíssimo leque de reflexões. À problemática do subdesenvolvimento que esteve no centro de suas preocupações na Comissão Econômica para a América Latina (Cepal), acrescentou, ao assumir funções de governo a partir de 1958, a questão regional nordestina e o planejamento.
          Em seguida, os anos do exílio foram os mais fecundos de sua produção acadêmica. Suas tarefas universitárias juntam-se ao desafio de entender os rumos do Brasil e de uma conjuntura mundial em plena mutação. A moldura conceitual se expande em direção às outras ciências sociais, à cultura e à filosofia. O retorno ao Brasil, depois da anistia, dá origem a trabalhos de política econômica, alguns muito combativos. Depois desse momento conturbado, Furtado aceita desfrutar de certo repouso para se dedicar a uma escrita mais amena, suas memórias.
          A partir desses múltiplos interesses, o propósito da antologia é destacar quatro linhas essenciais no pensamento do grande economista. O eixo "Trajetórias" reúne textos de cunho autobiográfico. O núcleo mais relevante de sua obra é, evidentemente, o "Pensamento econômico", subdividido no Essencial em teoria e história, cobrindo um período que vai de 1961 a 1994. A problemática do subdesenvolvimento é seu fulcro.
          De seu livro mais conhecido, Formação econômica do Brasil, marcadamente de história econômica, se inclui o capítulo "Os mecanismos de defesa e a crise de 1929". A esse núcleo se seguem "Pensamento político" e, por fim, o tema da cultura, que fecha o volume, e tem um lugar destacado no pensamento de Celso Furtado, preocupado a partir de meados dos anos 1970 com a dimensão cultural do desenvolvimento, ou melhor, o elo explícito entre cultura e desenvolvimento.

Autor: Celso Furtado
Editora: Selo Pinguin - Companhia das Letras
Ano: 2013
Páginas: 528