segunda-feira, 31 de março de 2014

Dez filmes para entender a ditadura militar no Brasil




Dez filmes para entender a ditadura militar no Brasil
O golpe militar realizado em 31 de março de 1964, que completa 50 anos, não ressoou apenas na política, mas também nas artes. Das sessões de tortura aos fantasmas da ditadura, o cinema brasileiro invariavelmente volta aos anos do regime militar para desvendar personagens, fatos e consequências do golpe que destituiu o governo democrático do país e estabeleceu um regime de exceção que durou longos 21 anos. Os dez filmes que compõem esta lista, se não são os melhores, fazem um diagnóstico de como o cinema retratou a ditadura brasileira - por Chico Fireman
 
MANHÃ CINZENTA (1968), Olney São Paulo - Em plena vigência do AI-5, o cineasta-militante Olney São Paulo dirigiu este filme, que se passa numa fictícia ditadura latino-americana, onde um casal que participa de uma passeata é preso, torturado e interrogado por um robô, antecipando o que aconteceria com o próprio diretor. A ditadura tirou o filme de circulação, mas uma cópia sobreviveu para mostrar a coragem de Olney São Paulo, que morreu depois de várias sessões de tortura, em 1978
PRA FRENTE, BRASIL (1982), Roberto Farias - Um homem comum volta para casa, mas é confundido com um "subversivo" e submetido a sessões de tortura para confessar seus supostos crimes. Este é um dos primeiros filmes a tratar abertamente da ditadura militar brasileira, sem recorrer a subterfúgios ou aliterações. Reginaldo Faria escreveu o argumento e o irmão, Roberto, assinou o roteiro e a direção do filme, repleto de astros globais, o que ajudou a projetar o trabalho
NUNCA FOMOS TÃO FELIZES (1984), Murilo Salles - Rodado no último ano do regime militar, a estreia de Murilo Salles na direção mostra o reencontro entre pai e filho, depois de oito anos. Um passou anos na prisão; o outro vivia num colégio interno. Os anos de ausência e confinamento vão ser colocados à prova num apartamento vazio, onde o filho vai tentar descobrir qual a verdadeira identidade de seu pai. Um dos melhores papéis da carreira de Claudio Marzo.
CABRA MARCADO PARA MORRER (1984), Eduardo Coutinho - A história deste filme equivale, de certa forma, à história da própria ditadura militar brasileira. Eduardo Coutinho rodava um documentário sobre a morte de um líder camponês em 1964, quando teve que interromper as filmagens por causa do golpe. Retomou os trabalhos 20 anos depois, pouco antes de cair o regime, mesclando o que já havia registrado com a vida dos personagens duas décadas depois. Obra-prima do documentário mundial.
O QUE É ISSO, COMPANHEIRO? (1997), Bruno Barreto - Embora ficcionalize passagens e personagens, a adaptação de Bruno Barreto para o livro de Fernando Gabeira, que narra o sequestro do embaixador americano no Brasil por grupos de esquerda, tem seus méritos. É uma das primeiras produções de grande porte sobre a época da ditadura, tem um elenco de renome que chamou atenção para o episódio e ganhou destaque internacional, sendo inclusive indicado ao Oscar.
AÇÃO ENTRE AMIGOS (1998), Beto Brant - Beto Brant transforma o reencontro de quatro ex-guerrilheiros, 25 anos após o fim do regime militar, numa reflexão sobre a herança que o golpe de 1964 deixou para os brasileiros. Os quatro amigos, torturados durante a ditadura, descobrem que seu carrasco, o homem que matou a namorada de um deles, ainda está vivo --e decidem partir para um acerto de contas. O lendário pagador de promessas Leonardo Villar faz o torturador.
CABRA CEGA (2005), Toni Venturi - Em seu melhor longa de ficção, Toni Venturi faz um retrato dos militantes que viviam confinados à espera do dia em que voltariam à luta armada. Leonardo Medeiros vive um guerrilheiro ferido, que se esconde no apartamento de um amigo, e que tem na personagem de Débora Duboc seu único elo com o mundo externo. Isolado, começa a enxergar inimigos por todos os lados. Belas interpretações da dupla de protagonistas.
O ANO EM QUE MEUS PAIS SAIRAM DE FÉRIAS (2006), Cao Hamburger - Cao Hamburger, conhecido por seus trabalhos destinados ao público infantil, usa o olhar de uma criança como fio condutor para este delicado drama sobre os efeitos da ditadura dentro das famílias. Estamos no ano do tricampeonato mundial e o protagonista, um menino de doze anos apaixonado por futebol, é deixado pelos pais, militantes de esquerda, na casa do avô. Enquanto espera a volta deles, o garoto começa a perceber o mundo a sua volta.
HOJE (2011), Tata Amaral - Os fantasmas da ditadura protagonizam este filme claustrofóbico de Tata Amaral. Denise Fraga interpreta uma mulher que acaba de comprar um apartamento com o dinheiro de uma indenização judicial. Cíclico, o filme revela aos poucos quem é a protagonista, por que ela recebeu o dinheiro e de onde veio a misteriosa figura que se esconde entre os cômodos daquele apartamento. Denise Fraga surpreende num papel dramático.
TATUAGEM (2013), Hilton Lacerda - A estreia do roteirista Hilton Lacerda na direção é um libelo à liberdade e um manifesto anárquico contra a censura. Protagonizado por um grupo teatral do Recife, o filme contrapõe militares e artistas em plena ditadura militar, mas transforma os últimos nos verdadeiros soldados. Os soldados da mudança. Irandhir Santos, grande, interpreta o líder da trupe. Ele cai de amores pelo recruta vivido pelo estreante Jesuíta Barbosa, que fica encantado pelo modo de vida do grupo.
Fonte: Do UOL, em São Paulo 31/03/2014  -  07h00


quinta-feira, 27 de março de 2014

MAPAS CONCEITUAIS




MAPAS CONCEITUAIS

Tendo em vista suplementar o componente curricular “Orientação de Estudos”, oficina prevista na Parte Diversificada da Matriz Curricular das ETI, a equipe responsável por este Projeto disponibilizou no site da Secretaria da Educação, bem como no YouTube, videoaula sobre Mapa Conceitual, cujo conteúdo foi trabalhado em orientação técnica realizada em maio de 2013, na EFAP.

O Mapa Conceitual é uma ferramenta metodológica de trabalho educativo que pode auxiliar os professores de diferentes disciplinas, a resignificarem os conceitos das ciências com as quais trabalham, dando aos alunos possibilidades de melhor compreensão dos conteúdos a serem desenvolvidos.




SOBRE O GOLPE MILITAR DE 1964



SOBRE O GOLPE MILITAR DE 1964

Em 31 de março próximo o golpe militar de 1964 completará trinta anos, pensei sobre o que escrever a respeito desse período tão trágico da nossa história. Desisti de escrever um texto sobre o período e suas atrocidades, prefiro usar uma experiência  vivenciada por Vinícius de Moraes e representada também em sua obra.    
Em 13 de Dezembro de 1968, dia em que a ditadura brasileira instituiu o Ato Institucional número 5, o ponto máximo da escala totalitária dos militares, o Poeta estava em Lisboa.
Fazia um show acompanhado pela cantora Márcia e pelo violonista Baden Powell por lá, quando recebe a notícia. Do palco, comunica ao público sua tristeza com a situação do Brasil e lê seu poema “Minha Pátria”.
Quando sai do hotel, o Poeta se vê cercado por salazaristas revoltados com seu discurso contra a ditadura. É aconselhado a usar uma porta alternativa. Recusa-se. Sai e olha os manifestantes raivosos.
Ouve as vaias e as palavras de ordem que contagiam os idiotas de qualquer orientação política nestes momentos.
Então, ergue a voz e recita:
De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.
A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.
Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem
Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
- Meu tempo é quando.
Trata-se da Poética, que ele escreveu em 1950, quando estava em Nova York. Na metade do poema, uma voz com sotaque brasileiro repete o poema com ele. É um estudante que está junto com os salazaristas. Os revoltosos se calam aos poucos. Um ou outro tenta gritar, mas a força dos versos de Vinicius os cala e, ao final, só se ouve o Poeta.
Um primeiro rapaz tira o casaco e o coloca no chão, para servir de tapete para Vinicius. Outros o imitam em seguida.
Vinicius, que estava ameaçado por um grupo furioso, agora sai de cabeça erguida pisando em um mosaico de paletós e sobretudos.

A história está na biografia de Vinicius, “O Poeta da Paixão”, escrita por José Castello.
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MINHA PÁTRIA
Vinicius de Moraes
"A minha pátria é como se não fosse, é íntima
Doçura e vontade de chorar; uma criança dormindo
É minha pátria. Por isso, no exílio
Assistindo dormir meu filho
Choro de saudades de minha pátria.
Se me perguntarem o que é a minha pátria, direi:
Não sei. De fato, não sei
Como, por que e quando a minha pátria
Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água
Que elaboram e liquefazem a minha mágoa
Em longas lágrimas amargas.
Vontade de beijar os olhos de minha pátria
De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos...
Vontade de mudar as cores do vestido (auriverde!) tão feias
De minha pátria, de minha pátria sem sapatos
E sem meias, pátria minha
Tão pobrinha!
Porque te amo tanto, pátria minha, eu que não tenho
Pátria, eu semente que nasci do vento
Eu que não vou e não venho, eu que permaneço
Em contato com a dor do tempo, eu elemento
De ligação entre a ação e o pensamento
Eu fio invisível no espaço de todo adeus
Eu, o sem Deus!
Tenho-te no entanto em mim como um gemido
De flor; tenho-te como um amor morrido
A quem se jurou; tenho-te como uma fé
Sem dogma; tenho-te em tudo em que não me sinto a jeito
Nesta sala estrangeira com lareira
E sem pé-direito.
Ah, pátria minha, lembra-me uma noite no Maine, Nova Inglaterra
Quando tudo passou a ser infinito e nada terra
E eu vi alfa e beta de Centauro escalarem o monte até o céu
Muitos me surpreenderam parado no campo sem luz
À espera de ver surgir a Cruz do Sul
Que eu sabia, mas amanheceu...
Fonte de mel, bicho triste, pátria minha
Amada, idolatrada, salve, salve!
Que mais doce esperança acorrentada
O não poder dizer-te: aguarda...
Não tardo!
Quero rever-te, pátria minha, e para
Rever-te me esqueci de tudo
Fui cego, estropiado, surdo, mudo
Vi minha humilde morte cara a cara
Rasguei poemas, mulheres, horizontes
Fiquei simples, sem fontes.
Pátria minha... A minha pátria não é florão, nem ostenta
Lábaro não; a minha pátria é desolação
De caminhos, a minha pátria é terra sedenta
E praia branca; a minha pátria é o grande rio secular
Que bebe nuvem, come terra
E urina mar.
Mais do que a mais garrida a minha pátria tem
Uma quentura, um querer bem, um bem
Um libertas quae sera tamen
Que um dia traduzi num exame escrito:
"Liberta que serás também"
E repito!
Ponho no vento o ouvido e escuto a brisa
Que brinca em teus cabelos e te alisa
Pátria minha, e perfuma o teu chão...
Que vontade me vem de adormecer-me
Entre teus doces montes, pátria minha
Atento à fome em tuas entranhas
E ao batuque em teu coração.
Não te direi o nome, pátria minha
Teu nome é pátria amada, é patriazinha
Não rima com mãe gentil
Vives em mim como uma filha, que és
Uma ilha de ternura: a Ilha
Brasil, talvez.
Agora chamarei a amiga cotovia
E pedirei que peça ao rouxinol do dia
Que peça ao sabiá
Para levar-te presto este avigrama:
'Pátria minha, saudades de quem te ama...
Vinicius de Moraes.”