Homicídios de negras aumentam quase 20% e de brancas caem 12%, diz
estudo.
Entre 2003 e 2013,
a taxa de homicídios de mulheres negras no Brasil aumentou 19,5%, enquanto a
taxa de homicídios contra mulheres brancas caiu 11,9%. Os dados são do estudo
Mapa da Violência 2015 - Homicídios de Mulheres divulgado nesta segunda-feira
(9) e produzido pela Flacso (Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais).
Em 2013 (dados mais recentes disponíveis), 7,8 mulheres negras foram
assassinadas todos os dias. Em geral, a taxa de homicídios cometidos contra mulheres no Brasil cresceu
8,8% no mesmo período.
De acordo com o estudo, em 2003, a
taxa de homicídios de mulheres negras no Brasil era de 4,5 para cada 100 mil
habitantes. Onze anos depois, em 2013, a taxa subiu para 5,4/100 mil
habitantes. Em contrapartida, as taxas de homicídios de mulheres brancas caíram
de 3,6/100 mil habitantes em 2003 para 3,2/100 mil habitantes.
Para o coordenador do estudo, Julio
Jacobo Waiselfisz, a discrepância entre as mortes de mulheres negras e brancas
é resultado de pelo menos três fatores: terceirização da Segurança Pública,
politização da temática da segurança e o racismo.
"Na prática, a população branca
que tem mais recursos paga por uma segurança extra. Isso acontece nas lojas,
nos shoppings para onde esse público vai. Na realidade, a população branca
acaba tendo acesso a duas formas de segurança: a do Estado e a privada",
explica Jacobo.
O pesquisador diz ainda que a segurança pública virou um tema muito caro aos
políticos e que isso influencia a tomada de decisões dos gestores.
"Quando uma empresária branca
morre em um bairro nobre, a consequência imediata é que mais policiais são
deslocados para aquela área como uma forma de atender ao clamor da opinião
pública. O mesmo não acontece quando uma mulher negra é morta em uma favela.
Essa politização da segurança gera distorções", afirmou.
Para Jacobo, o racismo é o terceiro
elemento que ajuda a explicar a diferença entre os índices de homicídios contra
mulheres negras e brancas.
Em relação aos dados totais da
pesquisa, o estudo revela que entre os anos de 2003 e 2013 foram mortas 46.186
mulheres. Desse total, 25.637 eram negras, ou 55%. As mulheres brancas
assassinadas no período foram 17,5 mil, ou 37% do total.
De acordo com o estudo da Flacso, o
Estado com a maior taxa de homicídios contra mulheres negras em 2013 foi o
Espírito Santo, onde o índice chegou a 11,1/100 mil habitantes. O Estado com a
menor taxa é São Paulo, com 2,7/100 mil habitantes. Em relação às mulheres
brancas, o Estado mais violento para elas em 2013 foi Rondônia, onde a taxa
chegou a 6,4/100 mil habitantes. O Estado mais seguro para mulheres brancas,
segundo a pesquisa, foi Roraima, onde a taxa foi zero.
O estudo critica a impunidade nos
casos de homicídios contra mulheres e diz que ela incentiva a violência contra
a mulher.
"Se a impunidade é amplamente
prevalecente nos homicídios dolosos em geral, com muito mais razão, pensamos,
deve ser norma nos casos de homicídio de mulheres", diz o estudo.
"A normalidade da violência
contra mulher no horizonte cultural do patriarcalismo justifica, e mesmo
autoriza que o homem pratique essa violência, com a finalidade de punir e
corrigir comportamentos femininos que transgridem o papel esperado de mãe, de
esposa e de dona de casa", registra o documento.
FONTE: http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2015/11/09/homicidios-de-negras-aumentam-195-e-de-brancas-caem-119-diz-estudo.htm