terça-feira, 10 de novembro de 2015

Preconceito: Mito da democracia racial só fez mal ao negro no Brasil.

Preconceito: Mito da democracia racial só fez mal ao negro no Brasil

O Brasil é um país racista. Casos como os dos insultos ao jogador Michel Bastos e à atriz Taís Araújo nas redes sociais expõem essa realidade com mais visibilidade. O sofrimento de ambos, por serem figuras públicas, tende a comover mais as pessoas.

Mas, segundo especialistas e ativistas sociais, o país ainda reflete as mesmas relações escravocratas de séculos atrás.

"As máscaras caíram. O movimento negro contemporâneo foi responsável pelo desmonte do mito da democracia racial", afirma Rosane Borges, jornalista e professora da Universidade Estadual de Londrina (PR).

O termo, difundido a partir do livro "Casa Grande e Senzala" (1933), de Gilberto Freyre, considera que as relações entre negros e brancos no Brasil se deram e se dão de forma harmônica.

"Os indicadores sociais demonstram como isso é falso. Dados do IBGE e de IDH [sobre qualidade de vida] mostram como a raça é que organiza as relações sociais no Brasil", afirma Borges. Para os estudiosos, a pobreza não explica a mudança nos índices sociais quando se considera apenas a população negra.

Vilma Reis, socióloga e ouvidora-geral da Defensoria Pública do Estado da Bahia, concorda: "Quando eu olho o sistema prisional, por exemplo, eu vejo um sistema colonial, de vingança contra negros e negras". "Somos mais de 50% do total da população, mas mais de 70% dos pobres e bem mais da metade dos desempregados", compara.

Douglas Belchior, blogueiro e militante do movimento negro, reforça que há muito tempo "existe uma cultura de negação do racismo". "Somos educados a naturalizar o racismo, a achar que é normal", diz Belchior.

Xingamentos nas redes sociais

Para eles, as redes sociais amplificam as vozes, tanto dos caluniados quanto dos caluniadores.

"A internet tira isso de um circuito confinado a um espaço doméstico ou nos clubes e vira uma caixa de ressonância", diz Borges.

"É melhor ter um campo de batalha aberto. Você sofre a ofensa e se pronuncia no mesmo lugar. Quem é homofóbico ou racista não vai recuar, com ou sem as redes sociais", diz Reis.

Douglas Belchior diz, contudo, que "a estrutura da sociedade em que a gente vive é muito mais violenta do que a da web". "A internet faz um favor para a gente, para o bem e para o mal. Explicita valores que estão presentes na sociedade."


Acessado em 10/11/2015 - 10h40m